Por Uriel de Souza Bezerra
Diretor do Departamento de Comunicação no Diretório Acadêmico de Artes Visuais
Semana passada foi inaugurada a I Semana das Consciência Negras da Univasf, inclusive anunciada aqui no Blog. A abertura foi garantida por uma Exposição dos alunos de Artes Visuais. Tal reunião de quadros e outras linguagens poderia apresentar um perfil dominante, talvez de reforço de uma identidade tradicional negra, entretanto, foi além. Algumas obras dialogavam com as novas construções identitárias e também insistiam em relatar que o negro ainda ocupa os extratos de base da pirâmide social.
Infelizmente, esse espaço (o blog) ainda não tem as obras como elemento de discussão, ou seja, a crítica. Entretanto, tratando-se de um espaço ou mecanismo representativo dos alunos de Artes Visuais, da Univasf, torna-se necessário abordar a campanha existente contra os alunos de arte, ou mais especificamente, contra sua produção exposta.

Também não é um mérito dessa discussão relatar se os alunos de artes sentem-se ofendidos ou não quando sua obras somem, são destruídas ou tachaadas com palavras ofensivas. Isso é perfeitamente compreensível na medida em que a arte, especialmente conceitual ou contemporânea, se dispõe a provocar o espectador, e a falta de conhecimento sobre sua história e conceitos pode gerar atitudes agressivas.
O problema começa quando essa falta de ética perante os estudantes de artes visuais, o "não saber lidar", passa a adquirir a forma de um costume, que se enraiza facilmente na consciência de alunos pertencentes a outras áreas do saber, principalmente as exatas, como as engenharias.
O caso da exposição do dia 17, parece ainda mais grave e profundo. Sendo uma exposição um "lugar de arte" instituído temporariamente, espera-se que ganhe mais respaldo do que as intervenções - distribuição ou criação de objetos de arte em lugar público -, todavia não foi essa a reação que se sucedeu. Algumas obras foram deslocadas do seu local de origem, outras tiveram pedaços arrancados.
Ainda que não percebam, os discentes das infindáveis engenharias, colocam-se no lugar de que podem fazer juízos ou discutir o que é arte, pois ignoram que a mesma é uma área do saber específico, detentora de conhecimentos próprios, exclusivos. Se perguntados sobre o que seria arte, revelam certeza em suas afirmações, entretanto não sabem que uma das primeiras funções da arte é levantar a dúvida.
Reproduzir a realidade de forma controlada e assistida em laboratório, fazer observações, levantar hipóteses, procurar provas e formular teorias é uma função na qual se desempenham muito bem, é louvável sua aptidão com cálculos e procedimentos científicos. Em contrapartida, colocar o pé fora dessas bases de conhecimento é perigoso, portanto tarefa que exige cuidado, cautela, afinal, é sempre mais cômodo suplantar a dúvida, o desconhecido, a tentar enxergá-los.