24 de novembro de 2010

O "des"exercício da dúvida.

Por Uriel de Souza Bezerra
Diretor do Departamento de Comunicação no Diretório Acadêmico de Artes Visuais



Semana passada foi inaugurada a I Semana das Consciência Negras da Univasf, inclusive anunciada aqui no Blog. A abertura foi garantida por uma Exposição dos alunos de Artes Visuais. Tal reunião de quadros e outras linguagens poderia apresentar um perfil dominante, talvez de reforço de uma identidade tradicional negra, entretanto, foi além. Algumas obras dialogavam com as novas construções identitárias e também insistiam em relatar que o negro ainda ocupa os extratos de base da pirâmide social.

Infelizmente, esse espaço (o blog) ainda não tem as obras como elemento de discussão, ou seja, a crítica. Entretanto, tratando-se de um espaço ou mecanismo representativo dos alunos de Artes Visuais, da Univasf, torna-se necessário abordar a campanha existente contra os alunos de arte, ou mais especificamente, contra sua produção exposta.

Também não é um mérito dessa discussão relatar se os alunos de artes sentem-se ofendidos ou não quando sua obras somem, são destruídas ou tachaadas com palavras ofensivas. Isso é perfeitamente compreensível na medida em que a arte, especialmente conceitual ou contemporânea, se dispõe a provocar o espectador, e a falta de conhecimento sobre sua história e conceitos pode gerar atitudes agressivas.

O problema começa quando essa falta de ética perante os estudantes de artes visuais, o "não saber lidar", passa a adquirir a forma de um costume, que se enraiza facilmente na consciência de alunos pertencentes a outras áreas do saber, principalmente as exatas, como as engenharias.

O caso da exposição do dia 17, parece ainda mais grave e profundo. Sendo uma exposição um "lugar de arte" instituído temporariamente, espera-se que ganhe mais respaldo do que as intervenções - distribuição ou criação de objetos de arte em lugar público -, todavia não foi essa a reação que se sucedeu. Algumas obras foram deslocadas do seu local de origem, outras tiveram pedaços arrancados.

Ainda que não percebam, os discentes das infindáveis engenharias, colocam-se no lugar de que podem fazer juízos ou discutir o que é arte, pois ignoram que a mesma é uma área do saber específico, detentora de conhecimentos próprios, exclusivos. Se perguntados sobre o que seria arte, revelam certeza em suas afirmações, entretanto não sabem que uma das primeiras funções da arte é levantar a dúvida.

Reproduzir a realidade de forma controlada e assistida em laboratório, fazer observações, levantar hipóteses, procurar provas e formular teorias é uma função na qual se desempenham muito bem, é louvável sua aptidão com cálculos e procedimentos científicos. Em contrapartida, colocar o pé fora dessas bases de conhecimento é perigoso, portanto tarefa que exige cuidado, cautela, afinal, é sempre mais cômodo suplantar a dúvida, o desconhecido, a tentar enxergá-los.





6 comentários:

Ana Paula Maich disse...

Acredito que, infelizmente, quem merece ler esse post não tenha capacidade para tal... o que não retira o valor e importancia desse texto! Valeu Uri...

Robério disse...

"Ocupando os espaços não usandos"

Não manisfestamos contra eles, mas a favor deles. Quando faço um objeto dito de arte, penso em provocar algo e que faça as pessoas pensarem (eles e nós). Como vc mesmo disse no texto sobre o objetivo desses objetos e o que estes incitam. Porém, a nós, as engenharias respondem de uma forma estética.

"Não sujem nosso espaço, Artes Visuais"

Paulinho Vasconcelos disse...

a proposito pr que não colocar isso distribuidos pelos murais na universidade e distribuir copias entre as infindaveis comunidades a qual dizem ser de estudantes da univasf!!!

fica a dica ...


Uri parabens um texto belissimo...


saudades galera

Wechila Andrade disse...

Acho de fundamental importância discutir esse repúdio que não só as obras, mas o curso de artes vem sofrendo como um todo. É preciso deixar claro que uma universidade é um local de trocas,de convivência, aceitação e fundamentalmente, um local para nos questionarmos e nos livrarmos de preconceitos.
Portanto, é preciso dizer isso a todos. Um texto como esse deve ser propagado (pense nisso!).

Elisson César disse...

Muito bacana o texto. Engraçado que vivemos nessa constante trincheira entre a eficiência dos "humanos" e a razão dos "exatos", nessa discórdia em que se prega a nossa inutilidade diante da ciência (porque os cursos de humanas só servem pra dar despesas). Diante disso tudo, o que eu quero observar é que nós devemos ocupar sim os espaços, incomodar e inclusive desagradar, porque não pedimos pra nascer humanos e não carregaremos pra sempre o estigma de nascer humano e padecer em meio as formas e técnicas, sem nos fazer e nos perceber humanos, pois o homem só se faz homem quando age e se reconhece enquanto tal. Portanto, se mantemos em nossas mentes essa repulsão ao outro, à obra do outro, à arte do outro, estamos negando a nossa própria condição de SER HUMANO.

Parabéns pelo texto!

Pezão disse...

Acredito que as obras de arte e o curso de artes visuais estão sendo muito felizes, exitosos, porque o intuito da arte é provocar, é mexer, é causar uma interação, mesmo que momentanea com o observador, por meio de um processo de sensibilização. E se os "insensiveis", que quebra as obras, fossem tão insensiveias não haveria toda essa discursão essa mobilização. As obras sensibilizaram.
galera das artes, você vieram para mexer nas estruturas de uma instituição pre-matura e que precisa de alguém que balance o berço. Valeu